*Petrônio Hipólito
A semana de manifestações no
Brasil serviu para despertar de um sentimento de indignação na população que
estava escondido e abafado havia muito tempo. Um sentimento narcotizado na
época do endurecimento do regime, em 1964, que eliminou vários tipos de lideranças
por gerações, causando um sentimento de apatia e distanciamento da cena
política, mal compreendido como a cordialidade do povo brasileiro. Voltou agora
cheio de sentimento e vigor, fruto do processo de redemocratização do país e do
surgimento natural de novas lideranças.
Estive na Avenida Paulista em algumas
manifestações. A primeira chamou a atenção pela violência, pelos sacos de lixo
queimados, a sujeira espalhada pelo chão e a truculência da tropa de choque.
Nessa a condenação da ação da polícia foi unânime. Assim, a segunda foi a mais
bonita e totalmente pacífica. O fato de os policiais terem sido tirados de cena
para se fazerem necessários em caso de baderna, mostrou mais uma vez que o
papel da polícia sempre será o de manter a ordem e guardar o cidadão, sem o uso
da violência. A manifestação, sempre apartidária, com uma enorme pauta de
reivindicações ilustrada nos cartazes que cada manifestante ou grupo
orgulhosamente exibia embalado por palavras de ordem.
O movimento provocou um grande desconforto
nos governantes. O prefeito de São Paulo, Haddad, sem experiência política para
produzir a resposta que a manifestação exigia, ficou apático e à sombra do
govenador Alckmin com declarações paternalistas sobre o impacto da redução das
tarifas traria no investimento em transporte público. A presidente parece que
se esqueceu de seu passado e transmitiu, em rede nacional, um discurso
previsível e pasteurizado. Só agora convoca os líderes da nação para um pacto
pelo bem da saúde da educação?
Provocou em mim e espero ter
provocado nos leitores um desconforto e uma reflexão sobre o que, de fato, é
importante para cada um de nós. A luta pode ser ativa, nas ruas com cartazes,
movimentos e protestos vigorosos e pacíficos, como vimos na maioria das vezes.
A luta também pode ser silenciosa, um protesto íntimo que se mostra ao exterior
através da mudança de atitudes e opiniões. Mas nunca deve cair no vazio.
Acorda Brasil! E reproduzindo um
dos cartazes da manifestação:
Eu me revolto
Tu te revoltas
Nós SOMOS !
Até aproxima semana.
(*)
Petrônio Hipólito tem 54 anos, é engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP. Especializou-se
em Gestão de Sustentabilidade e em Administração (CEAG) pela FGV. É palestrante
e consultor. Tem sólida experiência em Responsabilidade Social e
Desenvolvimento Sustentável.