* Rogério Silva
O então senador Antônio
Carlos Magalhães foi homenageado no Congresso Nacional. Não me lembro bem o
motivo, mas foram rendidos rasgados elogios à figura do cacique baiano. De uma
dessas manifestações, em especial, jamais esqueço. Foi do também senador à
época Aloízio Mercadante. Petista histórico, usou
a tribuna para
reconhecer que, apesar do antagonismo político, ACM tinha seus méritos,
era
figura de personalidade forte, marcante no cenário nacional e dono de
iniciais que viraram marca registrada. Estavam em lados opostos, mas
lutavam por ideais semelhantes.
Do
outro lado do Atlântico, partiu para a eternidade e entrou para a
história a Dama de Ferro. Margaret Thatcher ganhou o apelido dos rivais.
Os russos, tal qual o petista tupiniquim, viviam no embate contra a
Primeira Ministra britânica, mas jamais deixaram de reconhecer sua
importância nas negociações diplomáticas. ACM e Thatcher são panetone:
Ou você gosta, ou você odeia.
Nos
noticiários desta semana, a fala de Ed Miliband, líder da oposição
trabalhista, deu a medida exata das demonstrações de respeito à
parlamentar conservadora: "Discordamos de muito do que ela fez, e ela
continuará para sempre como uma figura controversa. Mas devemos
discordar e respeitá-la imensamente", disse.
Ninguém
se lembra da professora boazinha. Ficou pra trás. Mas das
disciplinadoras rígidas, que nos fizeram chorar e perder noites e noites
em busca da superação, todos temos recordações. Esses mestres foram
intransigentes em alguns momentos, porque era necessário ser assim. Nos
colégios de freiras, não importava ser católico ou não, as notas baixas
na prova de Ensino Religioso reprovavam, independentemente da crença em
Deus e do papel de Jesus Cristo na Terra. Era a lei do juízo, aquela que
tem poder moral acima de tudo. O resto é perfumaria.
No
mundo corporativo de hoje talvez não haja mais espaço para
personalidades assim. O excesso de psicologia no trato humano, benéfico
em um "sem número" de situações, também estragou uma fórmula superada de
sucesso. Tive um "braço direito" que certa vez me falou que eu era
muito bonzinho e que ele estava ficando com fama de mau entre os
colegas. Ele batia e eu alisava. Concordei. Mas expliquei que isso era
estratégico. É complicado só levar bordoada todo o tempo. Os afagos
também são bem vindos.
E
quando as duas personalidades estão na mesma pessoa? Aí, é o melhor dos
mundos. Irmã Dalvanir que o diga. Freirinha de 1 metro e meio de
altura, nordestina de Mossoró, lá no Rio Grande do Norte. Pequena de
tamanho, gigante de autoridade. Difícil encará-la na escola sem tremer
depois de um malfeito. Era a diretora. Nem precisava falar alto. Seu
olhar dizia tudo. Direto pro SOE - Serviço de Orientação Educacional. Às
vezes passávamos a tarde inteira lá, refletindo sobre a derrapada da
hora do recreio. Ela passava pela porta, lançava seu olhar, que logo em
seguida viria acompanhado de um sorriso discreto. A pena estava chegando
ao fim.
Uma
colega um pouco à frente de nosso tempo, rebelada, enfrentou Irmã
Dalvanir em busca de explicações: "A senhora fala grosso com gente,
pune, mas depois passa a mão pela cabeça, põe no colo e nos manda pra
casa", questionou. E a irmãzinha cruzou os braços, olhou a moça
serenamente e disse: "Mãe também é assim".
De
ferro ou de açúcar, cacique ou índio tupinambá, levado da breca ou fiel
como um cachorro de mendigo. Seja nas gerências, nas cadeiras do
parlamento, nos comandos da sala de aula, tem sempre um líder que será
confrontado com uma situação desafiadora. Como lidar com ela? Não, não
há receita pronta. Importante é recorrer aos exemplos e tentar colher de
cada um, o melhor. Num jogo justo, reconhecendo no perfil do
adversário, traços que também podem ser os seus.
Até semana que vem!