19 março 2013
ALHO, LIMÃO, MEL E GENGIBRE
*Rogério
Silva
Se não curar a gripe,
também não faz mal nenhum. As pessoas
gostam de dar conselhos, passar ensinamentos, dizer que se foi bom para ela
mesma, serve para outra. Dói menos na consciência. É melhor do que automedicação.
A minha avó adorava
dar receitinhas para as amigas. Deixava-a aliviada, sobretudo quando a gripe da
vizinha passava. Batata, né? Com uma semana de cama, longe de vírus e
bactérias, quem não melhorar de um resfriado, tá ferrado. Acalentava o ego dela
saber que a mistureba de alho, limão, mel e gengibre tinha agido afiadamente, sem chance para o
adversário.
Sábia minha vó.
Acabou, sem querer, me ensinando, que conselho é ótimo e deve ser dado a torto
e a direito, sem dramas pessoais. Vai funcionar sim. Tenha certeza. Aliste-se
no Exército da Salvação. Preste vestibular para o ITA. Inscreva-se naquele
concurso de 1057,5 candidatos por vaga. Jogue na mega sena, de preferência
quando acumular em 100 milhões. Invada a sala do chefe. Peça aumento de 75%.
Só alcança quem
busca. Não me recordo de quem tenha aprendido a dirigir sem nunca ter tido
coragem de ligar o carro.
Mas você pode ser
também aquela folha morta no canto da sala, escondido para não ser notado. Isso
pode ser a sua opção. Mas não o faça se não tiver vontade de que seja assim.
Longe de mim querer
desfilar nessas linhas um rosário de auto ajuda. Nem sequer adoto essa
literatura. Não gosto. Não acredito. Mas
algumas palavras de incentivo valem à pena. E se não forem ditas pelos que tem
um tiquinho mais de experiência e vivência, serão pronunciadas por falastrões que
aconselham o que não viveram. O que não sabem.
Dias desses viajei
210 quilômetros para falar a cerca de 100 alunos de Comunicação Social. Falamos
de mercado, expectativa das empresas, a formação ideal, o que cada um deve
fazer para se destacar, a segunda graduação, a terceira, o estudo de outras
línguas, blá, blá, blá…
Quantos assimilaram
aquilo? 3, 4… Serei otimista: 5, no máximo.
5 rapazes ou 5 moças
que tomaram aquele desafio para si e colocaram na cachola a ideia de ser um
belo profissional do mercado.
Toma nota de um
pensamento aí. Este vale a pena e é meu. De mais ninguém. Alguém pode até ter
pensado, mas nunca escreveu: AS COISAS MAIS DIFÍCEIS DA VIDA DEPENDEM APENAS DE
NÓS MESMOS: Emagrecer, namorar a garota mais cobiçada da escola, ser doutor,
viajar, conhecer novas pessoas, SER feliz sem necessariamente TER as coisas.
Não falo nada de
novo: Escrevo um pouco sobre a minha sábia e astuta avó, dos confins de
Taperoá, um lugar duas quadras após a esquina onde Judas perdeu as botas. Ela
sabia das coisas e me admirava e amava muito.
Eu era magricela, desengonçado com a bola, mal vestido e de cabelo sem
jeito. Mas para ela eu era o menino mais lindo do mundo.
Minha vó se foi. Mas
tem uns troços que não foram com ela. Ela não era tão senil a ponto de me ver e
enxergar um Clark Gable, o big galã de E
o Vento Levou. Nada disso. Cativar alguém é magia, magia pura. Fazer com
que ela veja alguma coisa que só ela seria capaz.
Lembro-me da minha
primeira cata ao emprego. Queria trabalhar. Estava no início da faculdade e
numa entrevista o recrutador me perguntou se eu sabia datilografar. Sim, disse
eu, já imaginando o fim de semana que perderia gastando meus dedos a treinar na
velha Remmington de meu pai.
Falta ousadia nos
olhos dos garotos de hoje, a vontade de arriscar, de atirar-se com desejo, sem saber
dos $$$ no holerite do fim do mês.
Isso deve ser
nostalgia de quem sempre acha que no passado tudo era melhor. Estou ficando
velho e ranzinza. Boa oportunidade então para dar conselhos, como disse lá no
começo, que nem esses e-mails melosos que rodam o mundo.
Então, lá vão:
1. Ouça mais, fale menos.
2. Volte sempre às origens, mesmo em pensamentos.
3. Curta o que faz. A grana vem depois, naturalmente.
4. Gaste só o que você ganha.
5. O melhor aluno da sala não necessariamente será o melhor cara do mercado.
6. O pior aluno da sala poderá melhorar com a sua ajuda.
7. Consuma tempo com você.
8. Deixe rastros, deixe marcas.
9. Chore e se arrependa, se assim valer.
10. Sorria, mas sorria muito, com vontade e sem culpa.
Ah… E sobre a receita… A
essência não está nela (se quiser troque o alho pela cebola e o gengibre por um
gole de pinga). O segredo está no pensamento positivo. Tudo vai dar certo.
(*) Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador
de empresas. Tem MBA em Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em
liderança. Desde 2007 dirige as áreas de infraestrutura midiática e jornalismo
da Rádio Educadora Jovem Pan e TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas
Gerais. Colunista semanal do Blog www.administrandohoje.blogspot.com.br
Reponsabilidade Social, afinal do quê estamos falando?
* Petrônio Hipólito
Caros leitores, estou iniciando hoje minha participação no
blog administrandohoje, honrado com o convite de Karim Midlej Harfush.
Vou escrever para vocês sobre responsabilidade social, seu significado
e seus desdobramentos, um tema fascinante e bem atual.
Nos dias de hoje, em nosso mundo altamente competitivo e por
isso muitas vezes cruel, a ideia da responsabilidade social se encaixa como um
amortecedor entre a atuação do indivíduo e da empresa.
Para entendermos isso direito, vamos falar um pouco de
conceitos: a empresa, como foi criada em sua essência, tem a função de produzir
bens ou serviços e gerar lucros para seus acionistas. Este é o lado do capital.
De outro lado está o trabalhador. Este por sua vez emprega seu conhecimento, ou
mesmo a sua mão de obra, trabalhando para a empresa e recebendo em troca um
salário. É o lado do trabalho. Assim capital e trabalho relacionam-se formalmente
desde o final do século XIX.
No início, e durante uma parte do século XX, com a abundância
de recursos naturais e da força de trabalho, a convivência entre capital e
trabalho se deu de maneira cordial e pacífica. A oferta de emprego era grande,
sempre havia trabalho à espera de quem queria ou podia. O empresário podia
produzir à vontade, pois sempre tinha um consumidor à espera de seus bens e
serviços. Nesse mundo ideal, com matéria prima farta, a indústria crescente e
uma massa de indivíduos cheios de recursos e de disposição para consumir bens e
serviços, se desenrolou o cenário da relação harmoniosa entre o capital e o
trabalho. A maior motivação da empresa era produzir artigos de qualidade e em
grande quantidade, pois havia mercado para toda a produção.
Mas essa união não foi eterna... Com o passar do tempo, um desequilíbrio se deu, provocado por estoques excessivos do lado da indústria, e pela escassez de recursos financeiros do lado do consumidor. Resultou daí uma grave crise nas bolsas de valores e no mercado financeiro, acarretando no enfraquecimento da relação entre capital e trabalho.
Esse desajuste econômico perdurou décadas, até que as empresas e a sociedade amadurecessem seus objetivos e repensassem uma nova forma de regulação entre o capital e o trabalho. Deste amadurecimento surgiram as bases da responsabilidade social. Assim, como escrevi no inicio do artigo, a responsabilidade social veio agir como um amortecedor, harmonizando as pressões do capital sobre o trabalho e vice-versa. As empresas que tinham como único fim o lucro, deveriam passar a agir visando o desenvolvimento da sociedade. Essa busca pelo bem comum criou um ambiente favorável ao surgimento do arcabouço legal que deu origem aos fundamentos da ética empresarial e boas práticas de cidadania, prevenindo a empresa do alto custo de estoques e a sociedade da falta de recursos para o consumo.
Assim, a empresa que pratica a responsabilidade social e tem boas práticas trabalhistas, está comprometida com o trabalhador, como também com a sociedade de um modo geral, ou seja, preservando o meio ambiente, ao protegê-lo da poluição e contribuindo verdadeiramente para o progresso de uma região. O cidadão, como parte da sociedade, também pratica a responsabilidade social quando vota conscientemente, quando reivindica a contrapartida de sua contribuição em impostos, quando usa os recursos naturais com moderação e respeita a natureza.
Praticar a reponsabilidade social traz portanto diversos benefícios, seja do lado do trabalho: tornando mais justas as relações entre o governo e sociedade por meio de políticas públicas, e da promoção da cidadania - através da conscientização de mudanças de hábitos e atitudes em relação aos semelhantes (no trânsito, por exemplo), ou em relação à preservação ambiental. Já do lado do capital os benefícios são apontados em diversos estudos, mostrando que as empresas que utilizam as práticas de responsabilidade social em seus negócios são mais longevas e tem melhor resultado no longo prazo do que outras em sua área de atuação (assunto do próximo artigo no blog). Concluo reforçando a tese de que a prática da responsabilidade social não só aumenta a autoestima da sociedade como também o resultado das empresas. Pratique!
Boa semana a todos e até a próxima terça-feira.
(*)
Petrônio Hipólito tem 54 anos, é engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP. Especializou-se
em Gestão de Sustentabilidade e em Administração (CEAG) pela FGV. É palestrante
e consultor. Tem sólida experiência em Responsabilidade Social e
Desenvolvimento Sustentável.
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