Busca por profissional das áreas técnicas está aquecida, mas sai na
frente no mercado quem também possui perfil de gestor e de líder.
A engenheira elétrica Ana Paula Ferme é uma profissional que reúne
alguns dos atributos que o mercado de trabalho procura. Técnica em
telecomunicações e mestranda em energia aos 32 anos, ela é coordenadora
na Câmara de Comercialização em Energia (CCEE), órgão responsável por
viabilizar as relações de compra e venda de energia elétrica em todo o
Brasil.
Aos 16 anos, Ana Paula fazia curso técnico em telecomunicações e
começou a estagiar na Embratel. Permaneceu na empresa por mais de seis
anos até a privatização. Assim que terminou a graduação em engenharia
elétrica, Ana Paula começou a procurar uma vaga no setor energético e,
segundo ela, não teve dificuldade para encontrar. "Não conhecia o setor
profundamente, mas tinha experiência profissional e o conhecimento
adquirido na faculdade, além de bom relacionamento interpessoal, ser
comunicativa e trabalhar bem em equipe."
Vagas nas áreas técnicas são abundantes. Levantamento realizado em
2012 pela empresa de recursos humanos ManpowerGroup apontou que na
cadeia de talentos elas são as mais procuradas pelo mercado. Estudo do
portal Vagas.com mostra que 26% das empresas contratavam profissionais
de níveis operacionais em 2007, hoje elas representam 22%. Por sua vez, a
contratação de profissionais dos setores técnicos aumentou de 5%, em
2007, para 7% em 2013.
Para a gerente de relacionamento da Vagas Tecnologia, Fernanda Diez,
esse é um retrato do aumento nas especializações, além da demanda do
mercado por profissionais como, por exemplo, engenheiros.
No entanto, segundo a diretora de RH da ManpowerGroup, Márcia
Almström, nessas áreas, o mercado busca um profissional que tenha, além
do conhecimento técnico, capacidade analítica e perfil de liderança.
Há cinco anos e meio na CCEE, a engenheira assumiu o posto de
coordenação justamente por congregar essas características em seu
perfil. Antes de ser promovida, o superior de Ana Paula avaliou que ela
tinha perfil de especialista técnica e também de gestora.
"Em janeiro de 2012, após uma reestruturação na empresa, surgiu essa
vaga em gestão. Fiquei surpresa, pois não esperava essa oportunidade no
curto prazo, mas sabia que estava preparada e aceitei", conta.
Para a engenheira, o curso técnico e a inserção no mercado de
trabalho foram fatores relevantes para as conquistas profissionais.
"Fazer o curso técnico e começar a trabalhar cedo me deram maturidade e
experiência profissional para assumir as responsabilidades", ressalta.
A jovem quer continuar a se aperfeiçoar para ter mais conhecimento do
setor e estar preparada para novas oportunidades. "Estou superando os
desafios no dia a dia, mas ainda tenho muito para aprender."
O diretor da consultoria de recrutamento Michael Page, Leonardo de
Souza, também acredita que o mercado de trabalho está vivendo um momento
de grande procura por profissionais com bagagem técnica.
Na avaliação de Souza construção civil está no radar das
contratações. "Nessa área encontramos profissionais jovens com
remuneração alta, justamente por ser uma atividade específica que ainda
não tem mão de obra abundante no Brasil."
Ele lembra que o setor de construção civil avançou bastante nos
últimos dois anos, devido ao aumento nos lançamentos mobiliários e aos
eventos esportivos que acontecerão no Brasil.
"Neste momento, a formação acadêmica específica tem peso nas
contratações, no entanto as competências comportamentais, como
facilidade de relacionamento, comunicação e trabalho em equipe, serão
sempre valorizadas no momento de uma contratação", diz Souza.
Márcia Almström também acredita que somente a expertise para o
negócio não garante um bom profissional. De acordo com ela, é preciso
ter competências comportamentais, como espírito para trabalhar em
equipe. Ela enfatiza que as habilidades comportamentais continuam sendo
bastante valorizadas pelas empresas.
Por isso, ela acredita que a dificuldade de contratação vai além da
competência técnica. Para ela, o processo de recrutamento está cada vez
mais demorado, uma vez que os selecionadores procuram perfis mais
complexos. "Quanto mais diversidade buscamos maior a dificuldade em
encontrar o profissional ", complementa Márcia.
Diante da competitividade entre as empresas, da necessidade em
entregar resultados e de reduzir custos, as companhias querem mesmo é
encontrar um profissional ideal. "Mas, o profissional ideal é uma mosca
branca", acredita. Para ela, hoje o mercado busca um profissional que
tenha um conjunto de competências que no passado era desempenhada por
duas ou três pessoas.
De acordo com a diretora de RH esse profissional deve ter "CHA":
conhecimento, habilidade e atitude. Ela esclarece, ainda, que
conhecimento e habilidade estão relacionados ao negócio, uma vez que é
importante para a empresa ter um profissional que tenha conhecimento do
ramo, saiba executar e entregar resultados para a organização.
Por sua vez, a atitude está nas características comportamentais. "Ter
atitude, é ter espírito colaborativo, saber trabalhar em equipe, ter
perfil para gestão de pessoas e bom relacionamento interpessoal",
esclarece.
A diretora de RH lembra que existem competências indispensáveis e
outras que podem ser aprendidas. Para ela, a empresa precisa avaliar a
metodologia do "possível ensinar", ou seja, quando o profissional não
está 100% pronto para a função, mas existe a possibilidade de aprender.
"Neste caso, ensinar conhecimento do negócio é mais possível do que
atitudes comportamentais", acredita Márcia.
"Só o técnico não vai ser suficiente, a maioria dos técnicos não
desenvolveu perfil de liderança e nos dias de hoje é preciso ter olhar e
foco no desenvolvimento da carreira e da empresa", observa.
Em relação aos processos de contratação, o diretor da Michael Page
acredita que eles estejam mais complexos e exigentes. "É um reflexo do
pleno emprego. As empresas querem um profissional mais capacitado e na
outra ponta, o profissional está atentos às novas oportunidades e mais
exigente em suas escolhas", acredita.