*Rogério
Silva
Se não curar a gripe,
também não faz mal nenhum. As pessoas
gostam de dar conselhos, passar ensinamentos, dizer que se foi bom para ela
mesma, serve para outra. Dói menos na consciência. É melhor do que automedicação.
A minha avó adorava
dar receitinhas para as amigas. Deixava-a aliviada, sobretudo quando a gripe da
vizinha passava. Batata, né? Com uma semana de cama, longe de vírus e
bactérias, quem não melhorar de um resfriado, tá ferrado. Acalentava o ego dela
saber que a mistureba de alho, limão, mel e gengibre tinha agido afiadamente, sem chance para o
adversário.
Sábia minha vó.
Acabou, sem querer, me ensinando, que conselho é ótimo e deve ser dado a torto
e a direito, sem dramas pessoais. Vai funcionar sim. Tenha certeza. Aliste-se
no Exército da Salvação. Preste vestibular para o ITA. Inscreva-se naquele
concurso de 1057,5 candidatos por vaga. Jogue na mega sena, de preferência
quando acumular em 100 milhões. Invada a sala do chefe. Peça aumento de 75%.
Só alcança quem
busca. Não me recordo de quem tenha aprendido a dirigir sem nunca ter tido
coragem de ligar o carro.
Mas você pode ser
também aquela folha morta no canto da sala, escondido para não ser notado. Isso
pode ser a sua opção. Mas não o faça se não tiver vontade de que seja assim.
Longe de mim querer
desfilar nessas linhas um rosário de auto ajuda. Nem sequer adoto essa
literatura. Não gosto. Não acredito. Mas
algumas palavras de incentivo valem à pena. E se não forem ditas pelos que tem
um tiquinho mais de experiência e vivência, serão pronunciadas por falastrões que
aconselham o que não viveram. O que não sabem.
Dias desses viajei
210 quilômetros para falar a cerca de 100 alunos de Comunicação Social. Falamos
de mercado, expectativa das empresas, a formação ideal, o que cada um deve
fazer para se destacar, a segunda graduação, a terceira, o estudo de outras
línguas, blá, blá, blá…
Quantos assimilaram
aquilo? 3, 4… Serei otimista: 5, no máximo.
5 rapazes ou 5 moças
que tomaram aquele desafio para si e colocaram na cachola a ideia de ser um
belo profissional do mercado.
Toma nota de um
pensamento aí. Este vale a pena e é meu. De mais ninguém. Alguém pode até ter
pensado, mas nunca escreveu: AS COISAS MAIS DIFÍCEIS DA VIDA DEPENDEM APENAS DE
NÓS MESMOS: Emagrecer, namorar a garota mais cobiçada da escola, ser doutor,
viajar, conhecer novas pessoas, SER feliz sem necessariamente TER as coisas.
Não falo nada de
novo: Escrevo um pouco sobre a minha sábia e astuta avó, dos confins de
Taperoá, um lugar duas quadras após a esquina onde Judas perdeu as botas. Ela
sabia das coisas e me admirava e amava muito.
Eu era magricela, desengonçado com a bola, mal vestido e de cabelo sem
jeito. Mas para ela eu era o menino mais lindo do mundo.
Minha vó se foi. Mas
tem uns troços que não foram com ela. Ela não era tão senil a ponto de me ver e
enxergar um Clark Gable, o big galã de E
o Vento Levou. Nada disso. Cativar alguém é magia, magia pura. Fazer com
que ela veja alguma coisa que só ela seria capaz.
Lembro-me da minha
primeira cata ao emprego. Queria trabalhar. Estava no início da faculdade e
numa entrevista o recrutador me perguntou se eu sabia datilografar. Sim, disse
eu, já imaginando o fim de semana que perderia gastando meus dedos a treinar na
velha Remmington de meu pai.
Falta ousadia nos
olhos dos garotos de hoje, a vontade de arriscar, de atirar-se com desejo, sem saber
dos $$$ no holerite do fim do mês.
Isso deve ser
nostalgia de quem sempre acha que no passado tudo era melhor. Estou ficando
velho e ranzinza. Boa oportunidade então para dar conselhos, como disse lá no
começo, que nem esses e-mails melosos que rodam o mundo.
Então, lá vão:
1. Ouça mais, fale menos.
2. Volte sempre às origens, mesmo em pensamentos.
3. Curta o que faz. A grana vem depois, naturalmente.
4. Gaste só o que você ganha.
5. O melhor aluno da sala não necessariamente será o melhor cara do mercado.
6. O pior aluno da sala poderá melhorar com a sua ajuda.
7. Consuma tempo com você.
8. Deixe rastros, deixe marcas.
9. Chore e se arrependa, se assim valer.
10. Sorria, mas sorria muito, com vontade e sem culpa.
Ah… E sobre a receita… A
essência não está nela (se quiser troque o alho pela cebola e o gengibre por um
gole de pinga). O segredo está no pensamento positivo. Tudo vai dar certo.
(*) Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador
de empresas. Tem MBA em Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em
liderança. Desde 2007 dirige as áreas de infraestrutura midiática e jornalismo
da Rádio Educadora Jovem Pan e TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas
Gerais. Colunista semanal do Blog www.administrandohoje.blogspot.com.br
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