*Luís Fernando Brito de Assis
Em um
de nossos intermináveis papos, escutei de uma amiga de infância o quanto sou
importante na vida dela. Melhor: o quanto os amigos são importantes na nossa
vida. E que eles são a nossa família por escolha.
Hoje tive a certeza disso, mais uma vez. E reafirmo: é a mais
pura verdade. Não sei como seria viver sem amigos verdadeiros, mas consigo
imaginar que deva ser padecer no vazio, no inconsistente. É não ter como
compartilhar tanto amor, tanta alegria, tanta tristeza. É não ter alguém para
se sentir saudade.
A vida de um advogado é estudar um processo. Processo? Isso!
Processo. Pê erre o PRO, cê éssi CE, éssi-éssi ó SSO. Processo que é composto
de inúmeros procedimentos. Prazos, prazos, prazos e mais prazos. Isso é um
processo. Ou melhor: disso é feito um processo. E garanto, como
advogado que sou, que é uma tarefa difícil. Labutar num mundo onde o cliente
traz seus problemas, onde o advogado funciona como psicólogo exercendo
ilegalmente a profissão. Mas quem disse que para ouvir se precisa de
escolaridade? Tarefa difícil, mas o contrário de difícil, para mim, é POSSIVEL.
Ouvir, ouvir, ouvir, aconselhar, conversar ... descobri que como
advogado sou um ótimo amigo. Porque aconselho mesmo. E muitas vezes nem cobro,
pois o que se quer é apenas ser ouvido,ajudado.
Certa ocasião estava num escritório para o qual trabalhei e
atendi uma pessoa. Pessoa mesmo, não cliente. Porque ali entrou um ser humano
com frustrações e anseios. Regra número um da Universidade da Vida: não mercantilizar relações. Jamais.
Ela chegou com queixas a respeito da operadora de telefonia, que
nunca completava as ligações, que as ligaçoes caiam e blá blá blá blá ...
Deixei falar até sentir seu olhar aliviado. E seu semblante de
Paz apareceu, de forma silente que nem ela mesma de deu conta. Emprestei meus
ouvidos e ofereci minhas palavras de conforto e, em seguida, ofereci-lhe uma
boa água gelada. Naquele calor, impossível se falar sem se refrescar. Após
expor o caso, apontei-lhe qual seria a solução possível a ser dada. E percebi mesmo
que, como advogado, sou um excelente amigo. Porque sendo Espiritualista como
acho que estou sendo (muito embora não acha nada bacana a idéia de rótulos)
aprendi que ser bom é bom demais. Aprendi, desde minha infância, na sabedoria
de meus pais, que ser bom é legal. Mas que praticar o bem é mais legal ainda. E
esse é o processo, mas não o processo judicial, com um juridiquês apurado, onde
os egos infla(ma)dos disputam vorazmente a causa. Desse processo eu não faço a
menor questão. E falo de peito aberto. Porque como advogado, sou um ótimo
amigo.
O processo que me interessa é o da vida. Esse mesmo. O da
vida. Aquele aonde os amigos sabem sempre quem você é antes de saber o que você é. E o processo
da vida tem prazo: ad infinitum. Pra sempre, porque é para sempre que eu levo
meus amigos, aonde quer que eles estejam ou aonde quer que eu esteja.
Da mesma forma que o processo judicial, o processo da vida
tem despacho, tem sentença e recurso. Mas apenas os bons "advamigos" sabem
quais procedimentos importam realmente, e quais são dispensáveis. Porque
amizade de verdade, dispensa o dispensável, mas mantém o essencial. E nada
daquela regra de que o acessório acompanha o principal. Porque o principal não
tem acessório dentro do processo da vida. O principal é único e não aceita
imitações, tão pouco complementos. E é assim que Deus me faz ver meus amigos.
Únicos e especiais.
Ah! O caso da pessoa que me procurou se resolveu sem haver a
necessidade de um processo judicial. Apenas emprestei meu celular para ela
ligar para a filha, que a aconselhou mudar de operadora. Eis o processo da
vida, movido pelo simples prazer de amar. Prova de que, como advogado, sou um
bom amigo.
(*) Luís Fernando Brito de Assis é Advogado
com atuação na esfera Cível e Trabalhista, Professor Universitário e
Especialista em Direito Público e Direito do Trabalho e Processo do
Trabalho pela Escola da Magistratura Trabalhista da 5ª Região e Doutorando em Bioética pela Universidad Del Museo Social Argentino.
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