*Petrônio
Hipólito
Caros leitores, vou fazer a vocês um relato sobre o
surgimento de um modelo inovador de financiamento que pode acabar com a pobreza
no mundo e que tem tudo a ver com responsabilidade social. Comecemos pelo
economista que cujo nome está no título de hoje.
Muhammad Yunus nasceu em Blangadesh, um país pobre situado no
sul da Ásia. Formou-se em Economia e fez doutorado nos Estados Unidos. Ao
retornar lecionou Economia na Universidade de Chittatong, no sul do país. Era a
década de 70, Bangladesh havia declarado independência do Paquistão e
atravessava sérias dificuldades. Certa vez Yunus reuniu um grupo de estudantes
e ao visitar uma aldeia se deparou com trabalhadoras rurais que confeccionavam
cestos de bambu. Verificou que na extrema pobreza em que viviam, trabalhavam
arduamente e não conseguiam se libertar de um circulo vicioso da miséria gerado
pela falta de financiamento Os bancos recusavam pequenos empréstimos para
compra de materiais de trabalho por não poderem obter garantias. Como as
trabalhadoras não tinham acesso ao crédito formal, tomavam dinheiro emprestado
para comprar o bambu (matéria prima dos cestos) justamente do comprador dos
mesmos, o único que oferecia financiamento. Este emprestava 22 centavos de
dólar para cada cesto que o trabalhador produzia e comprava os cestos acabados
por 24 centavos. Portanto, dois centavos de dólar era o lucro por cesto
produzido, impedindo o trabalhador de ter um rendimento adequado e ser forçado
a recorrer repetidamente ao empréstimo do comprador de cestos para poder
trabalhar. Yunus se perguntou como poderia libertar estas pessoas desse ciclo
perverso. Ele mesmo emprestou US$ 27 ao grupo e recebeu o valor integral de
volta. Essa experiência gerou um segundo empréstimo de US$300, que foi
novamente pago. Foi a semente para a criação do Grameen Bank, um banco destinado
a emprestar aos pobres e do surgimento do conceito de microcrédito. O banco
operava com de formas criativas de obtenção de garantias como a
responsabilidade solidária do grupo com o pagamento do dinheiro emprestado de
maneira a fortalecer a renda da comunidade, aumentar o número de trabalhadores
beneficiados e romper o ciclo da pobreza. Basta dizer que em 1995 o banco
contava com dois milhões de clientes com a menor taxa de inadimplência em seu
segmento.
A criação do banco inspirou o surgimento de programas de
microcrédito e políticas de combate à pobreza em todo o mundo. Em
reconhecimento ao seu trabalho Yunus foi agraciado com o Premio Nobel da Paz em
2006. Sua iniciativa inspirou a criação de um sem número de negócios sociais em
Bangladesh como serviços de telefonia celular, fábrica de alimentos, usinas de
geração de eletricidade a partir de energia solar e unidade de produção de água
potável. Esse modelo de negócio social, um pouco diferente da empresa
tradicional por prever a aplicação do lucro no próprio negócio, se replicou em
todo o mundo, inclusive no Brasil. Sobre isso vou escrever mais adiante
contando outras histórias de Yunus.
Boa semana a todos e até a próxima terça-feira.
Fonte:O
Desafio das Microfinanças – Angela da Rocha e Renato Cotta de Mello – COPPEAD
2004
(*)
Petrônio Hipólito tem 54 anos, é engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP. Especializou-se
em Gestão de Sustentabilidade e em Administração (CEAG) pela FGV. É palestrante
e consultor. Tem sólida experiência em Responsabilidade Social e Desenvolvimento
Sustentável.
Colunista
Semanal do Blog www.administrandohoje.blogspot.com.br
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