*Rogério Silva
Acabo de receber um e-mail. Dia
14 de junho tem show do grupo de pagode “Só Pra Contrariar” numa grande casa de
shows em Uberlândia. Dizem que é o mesmo lugar onde tudo começou. Há
controvérsias. Parece que o lugar onde tudo começou é menos nobre, debaixo de
uma mangueira, acho que até já fechou. Mas isso não é o mais importante. O fato
é que o Alexandre Pires voltou. Aêêêêêê… O mineirinho está de volta. Depois de
carreira internacional, depois de mudar um pouco de estilo, depois de cantar em
outras línguas, depois de se apresentar em solo para um ou dois presidentes,
depois de usar ternos italianos e coisas mais, o cidadão Alexandre Pires retoma
seus passinhos ao lado da turma do pagode nesse cantinho de Minas. Se isso vai
dar certo ou não, são outros 550. O fato que importa agora é que o cachê do
grupo saltou de 30 para 150 mil. Vamos faturar!
Reconsiderar uma relação, voltar
a dividir as escovas de dente e tentar esquecer os erros do passado pode ser
bem mais difícil do que apenas começar. No campo musical, o reatamento do
mineirinho pagodeiro e seu SPC velho de guerra é apenas um exemplo entre tantos
outros que já vimos por aí. Infelizmente, as estatísticas mostram que esse tipo
de reaproximação dá em nada: Rouge (argh!), Twister (urgh!), Los Hermanos, Backstreet Boys (voltaram após os 30 para dar sequência a algo que nem
deveriam ter começado). Rick tentou carreira solo, Renner foi
tentar se recuperar do estrago de outras carreiras. Voltaram de mãos dadas há
pouco tempo. Alguém sabe onde se apresentam? Os irmãos Edson e Hudson
alardearam aos 4 ventos o fim da dupla em 2010. Um descobriu que o negócio dele
era o rock. Não foi pra lugar algum e voltou às modinhas com o irmão. O que não
significa – e não significa mesmo – que voltaram a fazer sucesso.
O problema desse negócio de “dar
um tempo” e retomar a união anos depois é que as pessoas de hoje não
necessariamente são as mesmas pessoas daquele tempo que passou. Porém, muitos
dos seus defeitos permanecem e a distância só nos faz esquecer um pouco essas
falhas.
Na primeira noite do “re-casamento”
de Humberto e Margarida, ela estava empolgadíssima. Espalhou pétalas de flores
pela casa, pôs no balde de gelo a mesma marca de vinho que eles degustaram
quando se conheceram e na vitrola, a música tema da história doce dos dois.
Tudo ia muito bem. Mas Humberto adormeceu na segunda taça. Recostou-se no sofá
e roncou. Roncou muito. Roncava tão alto que despertou em Margarida uma
lembrança que ela tinha apagado: Humberto ronca. E quando acordar pela manhã
vai usar o banheiro, deixar a toalha amarrotada sobre a pia, não vai levantar a
tampa do vaso para fazer seu pipi e, certamente, apertará o tubo de creme
dental no meio, coisa que deixa a Margarida irritadíssima.
Brigarão, discutirão, ele vai
dizer que pensou que ela tivesse mudado, mas que ela continua a mesma chata de
sempre. Ela dirá a ele coisas impronunciáveis, que ele continua o mesmo
porcalhão do passado e que ele deveria arrumar melhor a gaveta das cuecas, que
ali não é lugar de largar os chinelos, blá, blá, blá.
Separar-se é, algumas vezes, sinal
de sensatez. Reconciliar-se é, quase na sua totalidade, uma insensatez
maiúscula. O ser humano deveria andar sempre para frente, como ensinaram nossos
antepassados. Por que essa burrice tentar de novo, uma história repetida, com
os mesmos personagens?
No cinema, os filmes que formam as trilogias ambientam os
casais em circunstâncias diversas. Nenhum roteiro se arrisca a apresentar a
vida como ela realmente é. Todas as firulas e rodeios são propositais. É claro que Jonathan e
Jeniffer Hart tiveram suas crises conjugais na série televisiva da década de
80, mas eles viviam em eterna aventura, salvando o mundo em missões especiais,
enxergando perigos e ameaças até na hora de pôr o lixo pra fora. Só que nós não
somos o Casal 20.
E pra não dizer que não fui generoso hoje, vai aí uma trilha
musical para os incrédulos, que como eu, guardam as esperanças para outras
situações, mas não mais para esse tipo reconciliação. Começar de novo, de Ivan
Lins e Vitor Martins. Composta em 1979 para o seriado Malu Mulher. As idas e
vindas da personagem interpretada por Regina Duarte nunca foram o seu forte. http://letras.mus.br/ivan-lins/99567/.
Comece de novo sempre. Mas comece de novo, com algo novo.
Até mais!
(*)
Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador de empresas. Tem MBA em
Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em liderança. Desde 2007 dirige as
áreas de infraestrutura midiática e jornalismo da Rádio Educadora Jovem Pan e
TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas Gerais - Colunista Semanal do Blog
www.administrandohoje.blogspot.com.br
Caro Rogério, estamos sempre nos reconciliando. Até conosco mesmo. Veja o exemplo de nós, comunicadores (radialistas, jornalistas, apresentadores) saímos de uma emissora e, tempos depois, retornamos. Deixamos a casa de nossos pais para tentar a sorte ou nos unirmos a uma pessoa e, depois retornamos. Agora, quanto aos casais (marido e mulher; amasios, juntados...) é diferente. Quando ocorre separação por brigas é diferente. Ou termina em morte ou inimizades, brigas judiciais e tantos outros reveses. Bom, certo está Antônio Fagundes que disse que amor não pode se unir ao casamento. Cobranças e desavenças são contumazes, ainda mais quando os seres são tão iguais que as semelhanças atrapalham. Reconciliar já, dizia Jesus e ele está certo. Sempre!
ResponderExcluirGregório José
Genial. Pra frente é que caminha a humanidade, mesmo que com passos de formiga e sem vontade.
ResponderExcluir