*Petrônio Hipólito
Caros leitores, continuando no mesmo assunto da coluna da
semana passada, vou relatar a vocês um caso interessante sobre como a boa
vontade e o foco na resolução de um problema pode originar soluções eficazes e
criativas.
O problema:
30% de toda a população de Bangladesh, aquele país do sul
asiático do qual falei na coluna anterior, e 56% da população infantil abaixo
de cinco anos de idade sofrem de desnutrição severa ou moderada. O país tem uma
das maiores taxas de desnutrição infantil e materna de acordo com estudo do Fundo
das Nações Unidas para a Infância – UNICEF sobre a situação da infância no
mundo em 2008.
A solução:
Mohammad Yunus(*) sugeriu em um encontro com o
presidente da Danone, uma das maiores fabricantes mundiais de produtos lácteos,
a criação de uma empresa destinada a vender de alimentos à população de baixa
renda. A Grammeen Danone, uma joint
venture entre o Banco Grammeen e a Danone iniciou sua produção em 2006 para
combater a desnutrição e fornecer iogurte enriquecido a 6 centavos de Euro cada
pote, um preço acessível mesmo para os mais pobres.
Foi criado um negócio baseado nos moldes de empresa social.
Este modelo aceita que o montante investido retorne ao investidor na medida do
sucesso financeiro do empreendimento, mas não prevê distribuição de lucro aos
acionistas. Todo o lucro gerado pelo negócio deve ser reinvestido na própria
atividade de modo a trazer benefícios duradouros à sociedade. Além disso, toda
cadeia de fornecedores e de distribuição de produtos deve ser local visando
fortalecer a comunidade.
O produto é um pote feito de plástico reciclável onde se
acondiciona iogurte enriquecido com nutrientes como ferro, vitamina A, cálcio,
iodo e zinco. O produto também foi concebido de maneira a se adequar às
preferencias dos consumidores em relação à cor, consistência e sabor. O iogurte
era um produto popular em Bangladesh, mas inacessível à população de baixa
renda por conta do preço. Assim nasceu o iogurte Shokti Doi que significa
“iogurte que dá força”, vendido por 6 centavos de dólar o pote de 80 gramas.
Está sendo criado um pote comestível.
A Grammeen Danone tem objetivos específicos:
- Alimentação saudável para os pobres
- Modelo de negócio envolvendo a comunidade local
- Melhoria das condições econômicas da comunidade
- Envolver fornecedores e distribuidores locais
Para solucionar a questão da refrigeração do produto e a
preservação de sua qualidade até o consumo, foi criada uma rede de mulheres
distribuidoras do produto de porta em porta. As “moças da Grammeen” como são
chamadas mantém o iogurte refrigerado em suas casas e transportam em bolsas
térmicas somente o que vão vender no dia. Elas também são agentes para
tomadores de empréstimo do Banco, conforme relatei no artigo anterior, formando
uma forte rede de relacionamento com a comunidade. Seus filhos também tomam o
iogurte e elas foram treinadas para explicar os benefícios do iogurte e os
cuidados com a conservação.
Essa rede de distribuição baseada “nas moças” tem baixo custo
e contribui para o desenvolvimento local aumentando a renda dessas famílias.
O Banco realiza empréstimos para que a comunidade adquira
vacas para aumentar a produção de leite e dar conta do aumento constante no
consumo de iogurte.
Boa semana a todos e até a próxima terça-feira.
(*) Mohammad Yunus é um economista
que fundou o Banco Grammeen em Bangladesh para dar credito aos pobres e foi agraciado
com o Premio Nobel da Paz em 2006 como reconhecimento pelo seu trabalho.
(*)
Petrônio Hipólito tem 54 anos, é engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP. Especializou-se
em Gestão de Sustentabilidade e em Administração (CEAG) pela FGV. É palestrante
e consultor. Tem sólida experiência em Responsabilidade Social e
Desenvolvimento Sustentável.
Colunista
Semanal do Blog www.administrandohoje.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário