27 março 2013

Cuidado ao falar

*Rogério Silva

"Precisamos usar nossa visibilidade para comunicar algo relevante, alguma verdade...". A frase não é minha. Foi dita por um ator a um colega meu, jornalista. Em comum, os dois trabalham com comunicação e estão expostos todo o tempo ao público, como pessoas que podem, de certa maneira, influenciar pessoas.
Num desses simpósios sobre o tema, certa vez o Willian Bonner foi perguntado sobre o porquê de jornalistas não emprestarem sua imagem e sua voz a comerciais de tv, assim como fazem os atores. A resposta dele: Jornalistas são jornalistas 24 horas por dia. Não são personagens.
Atores não são personagens todo o tempo e no momento em que estão de cara limpa precisam expressar o que sentem. Daí a importância do raciocínio do ator, citado no começo desse texto. Se temos a oportunidade de emitir uma palavra que será ouvida por receptores, que seja algo relevante, uma verdade.
O poder da palavra impressiona e posto à prova, submetido ao crivo do outro, ganha um ar documental que vira regra, lei, pode acariciar ou agredir, afagar ou ferir.
Lá nos idos da década de 1990, ainda aprendendo muito sobre relacionamento humano e sabendo quase nada sobre o poder da palavra, escrevi um comunicado interno na empresa com palavras um pouco duras, de certa forma exageradas, acerca de outro departamento. O caso foi parar na diretoria porque foi encarado como ingerência, quase ato de insubordinação.
Tentei explicar que a intenção não era aquela, mas o meu chefe à época, muito experiente, me ensinou que, se falado apenas, o conteúdo teria outra conotação. Escrito, virara documento contra mim e que pouco adiantariam meus argumentos. Melhor seria deixar que o tempo cicatrizasse.
Isso lembra a historinha bem humorada e, certamente, muito ilustrativa, sobre o filho que mora fora, onde cursa faculdade, e manda um telegrama para o pai, que o lê bem na hora do almoço, ao lado da esposa. Nele, está escrito: “Pai, manda dinheiro, o que tinha já acabou”.
O pai, tomado por uma forte irritação, esbraveja, esmurra a mesa e pronuncia palavras normalmente impronunciáveis. A mãe toma de suas mãos o telegrama, acalma o marido e diz, com açúcar nos lábios e doçura na voz: “Querido, não é assim como você interpretou. O nosso filho que dizer ‘Pai, manda dinheiro, o que tinha acabou’. Tadinho, tá longe de nós, sozinho,precisa do nosso apoio”, finaliza.   E o pai, redimindo-se: “Ah, bom. Se é assim, tudo bem”.

O papel é frio, a palavra é firme. A depender de como é entendida, tem interpretações diversas. A visibilidade neste episódio foi assumida pela mãe, que naquele momento tinha ciência e sabedoria para influenciar alguém, sobre uma mensagem enviada por um emissor a um receptor, nada receptivo.
Todo cuidado é pouco. A palavra tem poder. E não é pouco!

(*) Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador de empresas. Tem MBA em Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em liderança. Desde 2007 dirige as áreas de infraestrutura midiática e jornalismo da Rádio Educadora Jovem Pan e TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas Gerais.



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