21 maio 2013

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA PARTE 2: A RECONCILIAÇÃO



*Rogério Silva



Acabo de receber um e-mail. Dia 14 de junho tem show do grupo de pagode “Só Pra Contrariar” numa grande casa de shows em Uberlândia. Dizem que é o mesmo lugar onde tudo começou. Há controvérsias. Parece que o lugar onde tudo começou é menos nobre, debaixo de uma mangueira, acho que até já fechou. Mas isso não é o mais importante. O fato é que o Alexandre Pires voltou. Aêêêêêê… O mineirinho está de volta. Depois de carreira internacional, depois de mudar um pouco de estilo, depois de cantar em outras línguas, depois de se apresentar em solo para um ou dois presidentes, depois de usar ternos italianos e coisas mais, o cidadão Alexandre Pires retoma seus passinhos ao lado da turma do pagode nesse cantinho de Minas. Se isso vai dar certo ou não, são outros 550. O fato que importa agora é que o cachê do grupo saltou de 30 para 150 mil. Vamos faturar!

Reconsiderar uma relação, voltar a dividir as escovas de dente e tentar esquecer os erros do passado pode ser bem mais difícil do que apenas começar. No campo musical, o reatamento do mineirinho pagodeiro e seu SPC velho de guerra é apenas um exemplo entre tantos outros que já vimos por aí. Infelizmente, as estatísticas mostram que esse tipo de reaproximação dá em nada: Rouge (argh!), Twister (urgh!), Los Hermanos, Backstreet Boys (voltaram após os 30 para dar sequência a algo que nem deveriam ter começado). Rick tentou carreira solo, Renner foi tentar se recuperar do estrago de outras carreiras. Voltaram de mãos dadas há pouco tempo. Alguém sabe onde se apresentam? Os irmãos Edson e Hudson alardearam aos 4 ventos o fim da dupla em 2010. Um descobriu que o negócio dele era o rock. Não foi pra lugar algum e voltou às modinhas com o irmão. O que não significa – e não significa mesmo – que voltaram a fazer sucesso.

O problema desse negócio de “dar um tempo” e retomar a união anos depois é que as pessoas de hoje não necessariamente são as mesmas pessoas daquele tempo que passou. Porém, muitos dos seus defeitos permanecem e a distância só nos faz esquecer um pouco essas falhas.

Na primeira noite do “re-casamento” de Humberto e Margarida, ela estava empolgadíssima. Espalhou pétalas de flores pela casa, pôs no balde de gelo a mesma marca de vinho que eles degustaram quando se conheceram e na vitrola, a música tema da história doce dos dois. Tudo ia muito bem. Mas Humberto adormeceu na segunda taça. Recostou-se no sofá e roncou. Roncou muito. Roncava tão alto que despertou em Margarida uma lembrança que ela tinha apagado: Humberto ronca. E quando acordar pela manhã vai usar o banheiro, deixar a toalha amarrotada sobre a pia, não vai levantar a tampa do vaso para fazer seu pipi e, certamente, apertará o tubo de creme dental no meio, coisa que deixa a Margarida irritadíssima.

Brigarão, discutirão, ele vai dizer que pensou que ela tivesse mudado, mas que ela continua a mesma chata de sempre. Ela dirá a ele coisas impronunciáveis, que ele continua o mesmo porcalhão do passado e que ele deveria arrumar melhor a gaveta das cuecas, que ali não é lugar de largar os chinelos, blá, blá, blá.

Separar-se é, algumas vezes, sinal de sensatez. Reconciliar-se é, quase na sua totalidade, uma insensatez maiúscula. O ser humano deveria andar sempre para frente, como ensinaram nossos antepassados. Por que essa burrice tentar de novo, uma história repetida, com os mesmos personagens?
No cinema, os filmes que formam as trilogias ambientam os casais em circunstâncias diversas. Nenhum roteiro se arrisca a apresentar a vida como ela realmente é. Todas as firulas e rodeios são propositais. É claro que Jonathan e Jeniffer Hart tiveram suas crises conjugais na série televisiva da década de 80, mas eles viviam em eterna aventura, salvando o mundo em missões especiais, enxergando perigos e ameaças até na hora de pôr o lixo pra fora. Só que nós não somos o Casal 20.
E pra não dizer que não fui generoso hoje, vai aí uma trilha musical para os incrédulos, que como eu, guardam as esperanças para outras situações, mas não mais para esse tipo reconciliação. Começar de novo, de Ivan Lins e Vitor Martins. Composta em 1979 para o seriado Malu Mulher. As idas e vindas da personagem interpretada por Regina Duarte nunca foram o seu forte. http://letras.mus.br/ivan-lins/99567/.

Comece de novo sempre. Mas comece de novo, com algo novo.

Até mais!


(*) Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador de empresas. Tem MBA em Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em liderança. Desde 2007 dirige as áreas de infraestrutura midiática e jornalismo da Rádio Educadora Jovem Pan e TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas Gerais - Colunista Semanal  do Blog  www.administrandohoje.blogspot.com.br
 

2 comentários:

  1. Caro Rogério, estamos sempre nos reconciliando. Até conosco mesmo. Veja o exemplo de nós, comunicadores (radialistas, jornalistas, apresentadores) saímos de uma emissora e, tempos depois, retornamos. Deixamos a casa de nossos pais para tentar a sorte ou nos unirmos a uma pessoa e, depois retornamos. Agora, quanto aos casais (marido e mulher; amasios, juntados...) é diferente. Quando ocorre separação por brigas é diferente. Ou termina em morte ou inimizades, brigas judiciais e tantos outros reveses. Bom, certo está Antônio Fagundes que disse que amor não pode se unir ao casamento. Cobranças e desavenças são contumazes, ainda mais quando os seres são tão iguais que as semelhanças atrapalham. Reconciliar já, dizia Jesus e ele está certo. Sempre!
    Gregório José

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  2. Genial. Pra frente é que caminha a humanidade, mesmo que com passos de formiga e sem vontade.

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