19 junho 2013

Gerdau estava certo



*Rogério Silva 
Em março passado, o empresário Jorge Gerdau deu uma interessante entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo e Portal UOL. O assunto, claro, era economia, política e poder. Num determinado momento, quando se tratava da necessidade de uma Reforma Política no Brasil, Gerdau mencionou o absurdo administrativo do Governo em ter 39 ministérios. Transcrevo agora, textualmente, a fala do empresário a esse respeito: “Tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Então, eu diria assim, que nós, provavelmente, estamos no limite desse período”.

Gerdau estava certo. Talvez estejamos envoltos no despertar do gigante. O excesso de ministérios é apenas uma demonstração do peso da máquina quase impossível de se administrar. Não há mais espaço nos prédios da Esplanada dos Ministérios para abrigar os funcionários das 39 pastas. O inchaço tornou o Estado o maior cliente do mercado imobiliário de Brasília, alugando prédios e mais prédios para abrigar servidores.

A impressão que se tem é de um trilho infindável de cabides de emprego. A percepção disso chegou ao conhecimento internacional pela indignação das pessoas, que tomaram as ruas num dos maiores movimentos populares da história recente nacional.

No início da década de 1990, os caras-pintadas tiraram um presidente do cargo. E a mobilização atual faz aquela parecer amadora. Começou com insatisfação em relação ao preço da tarifa do transporte público e generalizou-se com a indignação quanto a tudo o que funciona mal neste país. Saúde precária, educação deficiente, custo de vida altíssimo, volta da inflação, envolvimento do Estado com obras caríssimas da Copa, não cumprimento de metas, problemas estruturais dos mais sérios e o pior de todos: A corrupção.

Como disse Jorge Gerdau, a burrice, a loucura e a irresponsabilidade foram muito longe. E o caldo entornou.

Todos procuram saber quem está por trás disso. Partidos, políticos oportunistas, a oposição, uma dissidência dentro do grupo que detém o poder há 10 anos… Até agora, a única resposta que aparece é “O Povo”.

O movimento popular não tem uma cara ou um nome. É provável que, de tanto ver os panelaços argentinos e os gritos do leste europeu, o brasileiro tenha hoje noção real de que passou anos conformado com essa situação instalada. Somos o país do jeitinho, da mão molhada, que se preocupa mais com a escalação da seleção do que com a escalação dos governantes. O país das belas praias, do carnaval, do samba e do futebol. O país da Bossa Nova, das águas quentes, onde tem índios, mulatas e muito colorido.

Passou. Os relatos lá fora são bem menos nobres. As redes sociais romperam as barreiras e fizeram o povo acordar. O gigante despertou e não está nada satisfeito com o que vê ao seu redor. Estamos com cara de panaca. Pensávamos ser espertos levando vantagem em tudo e estávamos errados. Lá fora, eles têm medo daqui. Medo de assaltos, de violência, de ser passados pra trás na corrida do táxi, na conta do restaurante, no balcão do hotel.

Encontramos o espelho no fundo do baú e estamos olhando para a nossa imagem. Estamos feios, envelhecidos e constrangidos. E chegou a hora de mudar essa imagem, sem maquiagem.

Gerdau estava certo. “Tudo tem o seu limite”. O nosso, enfim, chegou.

(*) Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador de empresas. Tem MBA em Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em liderança. Desde 2007 dirige as áreas de infraestrutura midiática e jornalismo da Rádio Educadora Jovem Pan e TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas Gerais - Colunista Semanal  do Blog  www.administrandohoje.blogspot.com.br
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário