16 abril 2013

Peixe morre pela boca



*Rogério Silva
 
O Gabriel Chalita tá encrencado. Parece que encerra carreira política. Tão jovem. Tão cedo! Leio detalhes da mácula em sua biografia. Depois de corresponder-se por anos com o amigo Fábio de Melo – trocaram incontáveis cartas que chegaram a ser gravadas num disco – e lançar mais de 60 livros, construiu um capital político de 13% do eleitorado de São Paulo. Teria volume e consistência para bancar um jogo novo, ocupar ministério e lançar-se como alternativa de renovação em pleitos futuros, ainda nesta década. Já era!

Tinha grana na jogada. Propina, dinheiro sujo. Um amigo e ex-assessor – sempre eles! – jogou tudo no ventilador.  Comissões de 25% em licitações fraudulentas teriam elevado o patrimônio do rapaz em mais de 15 vezes. Vai ter investigação, disse-me-disse, troca de acusações. Mas o fato é que a mancha já ficou.

Lendo uma das muitas reportagens sobre o assunto, encontrei algo que sempre aparece nessas historinhas. Pode ser fantasia, mas é típico de quem se esbalda na segurança de sua intimidade. Diz o denunciante ao Ministério Público: “Chalita derramava notas (de dinheiro) pelo chão do closet. Arrancava as tiras dos maços e jogava em cima dos assessores, imitando o Silvio Santos. ´Quem quer dinheiro? ’ ”.

Clássico. O peixe que morre pela boca. Na história da corrupção brasileira, há recorrentes episódios de ostentação com o produto do crime. Gravações em celular, fotografias, vídeos que acabam publicados no you tube. Traficante que dá maconha pro filhinho pequeno, amante que se exibe com as joias que acaba de ganhar, jogador em alta velocidade com o possante estalando de novo na saída da balada. O que deveria ser particular torna-se público. Engraçado como nossas atitudes privadas entre quatro paredes nos envergonham tanto quando vistas pelos outros.
O gerente do banco onde tenho conta me disse certa vez que essa coisa de sigilo bancário é um mito. Ele cansa de ver clientes falando ao celular dados que deveriam ser só do conhecimento deles. Entregam números de conta, palavras secretas e senhas. Em assinaturas de contrato, são comuns os falatórios sem se importar com quem está por perto. Nome completo, endereço, CPF, nome da mãe, quanto gasta por mês com cartão de crédito, talão de luz, o diabo!

Na seara dos corruptos, a língua coça e é impossível guardar segredo. É preciso compartilhar. Afinal de contas, para quê dinheiro se eu não posso gastá-lo? Torra tudo! Viagem para o exterior, carro novo, traslado de helicóptero, enfia a sogra no jatinho do governo, dança com guardanapo na cabeça em restaurante fino francês… Tum! Estoura um champanhe. Tum! Mais um. Quando o álcool entra, a verdade sai. 

O Chalita em questão só me choca por uma particularidade: Tinha aspecto de mudança. Cheirava a renovação. Tinha o tom que sonhamos para substituir os Barbalhos, Calheiros, Malufs com teto mofado. Grita pro chão de fábrica: “Sai uma nova fornada! Essa daí veio com defeito. Manda pro lixo”. Puxa! Vai dar uma trabalheira fazer outra bem feita. Tava com uma cara tão boa. Prometia! Prometia!
É. Pena que solou.



(*) Rogério Silva tem 41 anos, é jornalista e administrador de empresas. Tem MBA em Gestão Executiva e Empreendedora, com extensão em liderança. Desde 2007 dirige as áreas de infraestrutura midiática e jornalismo da Rádio Educadora Jovem Pan e TV Paranaíba/Record, em Uberlândia, Minas Gerais - Colunista Semanal do Blog www.administrandohoje.blogspot.com.br
 

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