26 junho 2013

O Brasil acordou


*Petrônio Hipólito

A semana de manifestações no Brasil serviu para despertar de um sentimento de indignação na população que estava escondido e abafado havia muito tempo. Um sentimento narcotizado na época do endurecimento do regime, em 1964, que eliminou vários tipos de lideranças por gerações, causando um sentimento de apatia e distanciamento da cena política, mal compreendido como a cordialidade do povo brasileiro. Voltou agora cheio de sentimento e vigor, fruto do processo de redemocratização do país e do surgimento natural de novas lideranças. 

Estive na Avenida Paulista em algumas manifestações. A primeira chamou a atenção pela violência, pelos sacos de lixo queimados, a sujeira espalhada pelo chão e a truculência da tropa de choque. Nessa a condenação da ação da polícia foi unânime. Assim, a segunda foi a mais bonita e totalmente pacífica. O fato de os policiais terem sido tirados de cena para se fazerem necessários em caso de baderna, mostrou mais uma vez que o papel da polícia sempre será o de manter a ordem e guardar o cidadão, sem o uso da violência. A manifestação, sempre apartidária, com uma enorme pauta de reivindicações ilustrada nos cartazes que cada manifestante ou grupo orgulhosamente exibia embalado por palavras de ordem.

O movimento provocou um grande desconforto nos governantes. O prefeito de São Paulo, Haddad, sem experiência política para produzir a resposta que a manifestação exigia, ficou apático e à sombra do govenador Alckmin com declarações paternalistas sobre o impacto da redução das tarifas traria no investimento em transporte público. A presidente parece que se esqueceu de seu passado e transmitiu, em rede nacional, um discurso previsível e pasteurizado. Só agora convoca os líderes da nação para um pacto pelo bem da saúde da educação?

Provocou em mim e espero ter provocado nos leitores um desconforto e uma reflexão sobre o que, de fato, é importante para cada um de nós. A luta pode ser ativa, nas ruas com cartazes, movimentos e protestos vigorosos e pacíficos, como vimos na maioria das vezes. A luta também pode ser silenciosa, um protesto íntimo que se mostra ao exterior através da mudança de atitudes e opiniões. Mas nunca deve cair no vazio.

Acorda Brasil! E reproduzindo um dos cartazes da manifestação:
Eu me revolto

Tu te revoltas

Nós SOMOS !
Até aproxima semana.

(*) Petrônio Hipólito tem 54 anos, é engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP. Especializou-se em Gestão de Sustentabilidade e em Administração (CEAG) pela FGV. É palestrante e consultor. Tem sólida experiência em Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável.

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