12 março 2013

Para além do conhecimento específico.

Busca por profissional das áreas técnicas está aquecida, mas sai na frente no mercado quem também possui perfil de gestor e de líder.

 A engenheira elétrica Ana Paula Ferme é uma profissional que reúne alguns dos atributos que o mercado de trabalho procura. Técnica em telecomunicações e mestranda em energia aos 32 anos, ela é coordenadora na Câmara de Comercialização em Energia (CCEE), órgão responsável por viabilizar as relações de compra e venda de energia elétrica em todo o Brasil.
Aos 16 anos, Ana Paula fazia curso técnico em telecomunicações e começou a estagiar na Embratel. Permaneceu na empresa por mais de seis anos até a privatização. Assim que terminou a graduação em engenharia elétrica, Ana Paula começou a procurar uma vaga no setor energético e, segundo ela, não teve dificuldade para encontrar. "Não conhecia o setor profundamente, mas tinha experiência profissional e o conhecimento adquirido na faculdade, além de bom relacionamento interpessoal, ser comunicativa e trabalhar bem em equipe."
Vagas nas áreas técnicas são abundantes. Levantamento realizado em 2012 pela empresa de recursos humanos ManpowerGroup apontou que na cadeia de talentos elas são as mais procuradas pelo mercado. Estudo do portal Vagas.com mostra que 26% das empresas contratavam profissionais de níveis operacionais em 2007, hoje elas representam 22%. Por sua vez, a contratação de profissionais dos setores técnicos aumentou de 5%, em 2007, para 7% em 2013.
Para a gerente de relacionamento da Vagas Tecnologia, Fernanda Diez, esse é um retrato do aumento nas especializações, além da demanda do mercado por profissionais como, por exemplo, engenheiros.
No entanto, segundo a diretora de RH da ManpowerGroup, Márcia Almström, nessas áreas, o mercado busca um profissional que tenha, além do conhecimento técnico, capacidade analítica e perfil de liderança.
Há cinco anos e meio na CCEE, a engenheira assumiu o posto de coordenação justamente por congregar essas características em seu perfil. Antes de ser promovida, o superior de Ana Paula avaliou que ela tinha perfil de especialista técnica e também de gestora.
"Em janeiro de 2012, após uma reestruturação na empresa, surgiu essa vaga em gestão. Fiquei surpresa, pois não esperava essa oportunidade no curto prazo, mas sabia que estava preparada e aceitei", conta.
Para a engenheira, o curso técnico e a inserção no mercado de trabalho foram fatores relevantes para as conquistas profissionais. "Fazer o curso técnico e começar a trabalhar cedo me deram maturidade e experiência profissional para assumir as responsabilidades", ressalta.
A jovem quer continuar a se aperfeiçoar para ter mais conhecimento do setor e estar preparada para novas oportunidades. "Estou superando os desafios no dia a dia, mas ainda tenho muito para aprender."
O diretor da consultoria de recrutamento Michael Page, Leonardo de Souza, também acredita que o mercado de trabalho está vivendo um momento de grande procura por profissionais com bagagem técnica.
Na avaliação de Souza construção civil está no radar das contratações. "Nessa área encontramos profissionais jovens com remuneração alta, justamente por ser uma atividade específica que ainda não tem mão de obra abundante no Brasil."
Ele lembra que o setor de construção civil avançou bastante nos últimos dois anos, devido ao aumento nos lançamentos mobiliários e aos eventos esportivos que acontecerão no Brasil.
"Neste momento, a formação acadêmica específica tem peso nas contratações, no entanto as competências comportamentais, como facilidade de relacionamento, comunicação e trabalho em equipe, serão sempre valorizadas no momento de uma contratação", diz Souza.
Márcia Almström também acredita que somente a expertise para o negócio não garante um bom profissional. De acordo com ela, é preciso ter competências comportamentais, como espírito para trabalhar em equipe. Ela enfatiza que as habilidades comportamentais continuam sendo bastante valorizadas pelas empresas.
Por isso, ela acredita que a dificuldade de contratação vai além da competência técnica. Para ela, o processo de recrutamento está cada vez mais demorado, uma vez que os selecionadores procuram perfis mais complexos. "Quanto mais diversidade buscamos maior a dificuldade em encontrar o profissional ", complementa Márcia.
Diante da competitividade entre as empresas, da necessidade em entregar resultados e de reduzir custos, as companhias querem mesmo é encontrar um profissional ideal. "Mas, o profissional ideal é uma mosca branca", acredita. Para ela, hoje o mercado busca um profissional que tenha um conjunto de competências que no passado era desempenhada por duas ou três pessoas.
De acordo com a diretora de RH esse profissional deve ter "CHA": conhecimento, habilidade e atitude. Ela esclarece, ainda, que conhecimento e habilidade estão relacionados ao negócio, uma vez que é importante para a empresa ter um profissional que tenha conhecimento do ramo, saiba executar e entregar resultados para a organização.
Por sua vez, a atitude está nas características comportamentais. "Ter atitude, é ter espírito colaborativo, saber trabalhar em equipe, ter perfil para gestão de pessoas e bom relacionamento interpessoal", esclarece.
A diretora de RH lembra que existem competências indispensáveis e outras que podem ser aprendidas. Para ela, a empresa precisa avaliar a metodologia do "possível ensinar", ou seja, quando o profissional não está 100% pronto para a função, mas existe a possibilidade de aprender. "Neste caso, ensinar conhecimento do negócio é mais possível do que atitudes comportamentais", acredita Márcia.
"Só o técnico não vai ser suficiente, a maioria dos técnicos não desenvolveu perfil de liderança e nos dias de hoje é preciso ter olhar e foco no desenvolvimento da carreira e da empresa", observa.
Em relação aos processos de contratação, o diretor da Michael Page acredita que eles estejam mais complexos e exigentes. "É um reflexo do pleno emprego. As empresas querem um profissional mais capacitado e na outra ponta, o profissional está atentos às novas oportunidades e mais exigente em suas escolhas", acredita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário